Combatendo o 'bullying' na Educação Física escolar
O bullying (do inglês bully, que significa valentão ou
autoridade para oprimir) tem sido um dos temas mais discutidos na educação
escolar. Apesar de ser um conceito recente, sua prática é antiga. Sempre
existiu violência na sociedade e a escola, como célula dessa sociedade, acaba
reproduzindo-a. O papel do professor é criar mecanismos para combater essa
opressão.
Define-se bullying como mau trato repetitivo e intencional,
seja emocional ou físico. Alguns consideram o bullying como mera brincadeira,
sem intensão de ofender. No entanto, são coisas diferentes que não podem ter
mesmo sentido atribuído: no bullying uns se divertem à custa do outro, já na
brincadeira todos se divertem!
Ainda temos o cyber-bullying, a reprodução do bullying
escolar na rede de internet. Porém, a origem é quase sempre a escola.
Geralmente três agentes constituem o bullying: as vítimas, os agressores e os
expectadores.
Na Educação Física a ‘competição sem caráter pedagógico’
pode ser um dos principais motivos geradores do bullying. O contato físico e a
intensidade de linguagem corporal podem estimulam estereótipos. O perder e
ganhar; o mais forte e mais fraco; o ágil e o lento; o magro e o gordo; etc.
O bullying se apoia na diferença. Então é responsabilidade
do professor durante as atividades educacionais debater e refletir sobre essas
diferenças, ressaltando que somos humanos e a diferença é uma de nossas
características, de todos.
A intervenção do professor é fundamental para combater o
preconceito, mas pode também ter efeito contrário quando a aula de Educação
Física, por exemplo, é o “rola-bola”, ou seja, aulas sem planejamento e
objetivo pedagógico.
Grande parte dos alunos reclama que já sofreram bullying nas
aulas de Educação Física. Alguns carregam traumas por toda a vida e deixaram de
praticar esporte justamente por conta dos preconceitos.
Ao site Revista Escola a professora de Educação Física Joice
Silva relatou as dificuldades que enfrentou ao assumir as aulas no Colégio
Estadual Frederico Costa, de Salvador (BA):
"A disciplina já cria a ideia de que só os melhores
podem participar. Os próprios alunos começam a selecionar quem eles querem em
seu time, tentando encontrar os mais aptos", explica.
Nesse processo de seleção e exclusão começam a surgiu atos
de bullying entre os colegas. "Aparecem os apelidos, os termos que eles
utilizam para classificar os colegas: menina é lerda, é fraca, vai se machucar;
os gordinhos são lentos", comenta a professora.
Diante da situação, Joice resolveu intervir nas regras
convencionais dos esportes, junto com os alunos. No basquete, por exemplo,
antes de arremessar a bola, eles devem passá-la por, pelo menos, três meninas
do grupo. "Querendo ou não, a bola acaba passando por todos. A regra que,
na maioria dos casos é para impor limites, acaba por ampliá-los", conclui.
A professora passou também a organizar pequenos debates
durante as aulas, questionando os alunos sobre quem é o vencedor e quem é o
perdedor, em determinadas situações.
Um equívoco comum é quando detectado um caso de bullying na
aula o professor encaminha o aluno agressor à direção da escola, que o aplica
uma medida disciplinar. Quando o docente deveria aproveitar a situação para
torna-la em momento aprendizagem comum. Intervindo e resolvendo pedagogicamente
a situação.
Mas nem sempre é possível perceber a prática do bullying nas
aulas. Mas o professor deve dficar atento a indicadores: alunos que faltam
muito as aulas de Educação Física; que reclamam sempre de dor de cabeça,
cólica...; ou inventam sempre uma desculpa para escapar das aulas.
O bullying é alimentado pela ideologia dominante na
sociedade de que sempre tem que existir o mais forte e o mais fraco, gerando
preconceito e violência. Apesar de a origem estar fora da escola, é dentro da
escola que o bullying se desenvolve impulsionado por fatores também internos,
como vimos. Portanto, é na escola também um espaço de combate à sua reprodução.
A melhor forma é sem dúvida o planejamento, com aulas com objetivos claros e
metodologia para envolver todos em situações iguais de oportunidades, adaptando
sempre que necessário.
Fábio Ramirez
* O texto foi inspirado na palestra de defesa de mestrado da
professora Cirlei, orientando do professor Dr. Evando Carlos Moreira da
FEF-UFMT
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